20090204

Literatura


Ela diz:
- Hummm, nada mal para alguém em cuja testa está escrito boring till death.


A frase até tem algo de charmosa num primeiro momento, mas depois não parece apropriada. É que qualquer esboço de fortes emoções flui de dentro para fora, não o contrário.
É como um livro. Todo livro parece um saco à primeira vista, uma revista Capricho tem mais potencial latente de diversão.
A maior parte dos livros não é atraente nem como objeto de decoração...O fato é que livros são a manifestação física do tédio existencial.
Até que alguém esteja entediado o bastante para abrir um deles, só para ver o que acontece. Não é raro que efetivamente aconteça alguma coisa, embora quem não tenha passado pessoalmente por essa experiência duvide disso como se duvida de uma lenda urbana.
É mais comum do que se pensa. É até meio banal: por qualquer motivo o sujeito abre o livro e - com qualquer motivo ou sem nenhum - empresta para ele seu próprio coração.
Sim; um livro é completamente inofensivo até você refletir seu coração nele.
Depois disso fica irreconhecível. Mas você não vai se importar com reconhecimentos e, ainda que se importasse, não poderia se concentrar por causa do barulho. O som ensurdecedor que faz um coração vermelho, pulsante e molhado - mantendo vivos dois organismos. Você e o livro.
Eu posso ouvir o som do sangue circulando - carregando nutrientes, toxinas, oxigênio.
Agora mesmo posso ouvir o som do coração fazendo o sangue circular num ritmo estranhamente sossegado...
Na verdade, é só isso o que eu consigo ouvir; o som do meu coração refletido no mundo.

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