20091006

Coração de Porco

É constante. Só a dor é constante. Amortece-me continuamente o desequilibrio natural da condição humana. Desespero, sofro e vejo-me tão igual ao que era que não tenho qualquer medo que não tenha experimentado antes. Até morrer, que nós morremos tantas vezes. Eu perdi a conta. O amor rima tanto com dor que dá ódio. Todos os pronomes pessoais me irritam. Todos. Menos tu. A ti que eu adulo com uma sede de quase dois anos. Eu sei do mundo pelas tuas mãos. Agora quando saio à rua, perco-me na tua ausência na minha mão direita. Peito esquerdo e mão direita vazios. Tu sabes encher-me. Eu sou incompleta e tu sopras-me como se fosse um balão de ar quente e eu incho tanto contigo. Ego. Egocentrica eu sempre fui. Nada mais. Eu preencho horas de almoço com o teu nome. Eu preencho todas as horas com o teu nome. Merda. Eu fico só com a merda do teu nome quando fores. A merda do teu nome a esfaquear-me a merda do cérebro. Eu já nem sei do coração. Há qualquer coisa que dói. Deve ser o coração. Ele dói, dói como se fosse um porco em hora de matança. Odeio-o tanto. Ao coração, não ao porco. Eu de porcos entendo pouco, como entendo de quase tudo, tão pouco. Eu entendia o teu nome, a tua voz. Entendia-te. Somente. E era tanto...

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